sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Conto.


Em meio ao caos dos últimos dias, ele decidiu partir.
fugiu para uma praia longínqua, nos confins de lugar algum.
se desfez de todos os grilhões do mundo materialista.
assim sendo, agora lhe bastava viver.

trançou um chapéu de palha, simples e alegre.
usou da bondosa natureza e fez uma vara de pesca.
gastou alguns dias observando o mar, adaptando-se a ele.
consumiu uma noite ou outra formulando técnicas e planos.

Eis que então decidiu ir pescar.
agora vamos pular parte da história, em algum tempo.
um outro belo dia, enquanto sentado na beira do mar.
ele consegue fisgar algo, algo mais forte que o esperado.

Era uma mulher, desnorteada e faminta.
em polvorosa por alguém encontrar.
a mulher se desembestou a falar.
implorando por comida.

Disse-lhe, humildemente, que não possuía comida.
não há peixes no meu mar.
pesco sonhos e boas lembranças.
é tudo que posso lhe dar.

A mulher aceitou viver por mais tempo.
consumindo-lhe três boas lembranças e um sonho.
o pescador sentiu o coração diminuir e apertar.
mas sorriu e até a saudou quando partiu.

Dessa vez um dia chuvoso.
mais uma estranheza, dessa vez bem atípica.
se ele não soubesse que não há peixes lá no mar.
diria se tratar de um rei dos mares.

Apenas um homem, estranhamente tristonho.
estático e confuso, por outra pessoa achar.
o homem deu algumas palavras.
encarecidamente pedindo por ajuda.

Explicou-se, calma e brevemente.
dizendo não entender  das coisas da mente.
não há sabedoria no meu mar, pesco esperança e alegria.
é tudo que posso ofertar.

O homem concordou em ver algumas luas a mais.
queimando-lhe metade da esperança e três quartos de alegria.
o coração do pescador chorou sangue e sua alma gritou.
mas ele nem ao menos titubeou ao ver o homem se cortar e padecer.

E a última ocorrência, no dia em que nevou.
nada mais lhe parecia fora do normal.
mais uma fisgada, outra mulher.
que mais lhe parecia uma sereia, ou uma deusa.

Uma beleza inenarrável, de ferir a vista.
sonolenta e perdida ela parecia.
queria apenas voltar para o mar, ao qual pertencia.
sem proferir uma palavra, deu as costas e caminhou.

Desesperado, ele suplicou.
engasgando com desculpas pra que ela ficasse.
tenho amor e sorrisos sinceros, tudo pescado desse mesmo mar.
é pouco, mas é seu, se ficar.

A mulher não pode aceitar tamanho sacrifício.
e partiu, levando consigo, sem saber, tudo que ele tinha.
o coração bateu forte por duas vezes, e parou.
enquanto ele a seguia em direção ao mar, se afogando em tristeza e mágoa...



...no fim das contas, eu percebi que não vivo em caos....eu faço parte dele.

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