terça-feira, 20 de maio de 2014

Guarda Baixa.



Não foi complacência, foi algo mais, aquilo que nunca conseguimos definir.
enquanto as fotos em preto e branco vão surgindo, e o coração vai abrindo espaço.
o imediatismo falhou dessa vez, a persistência e um punhado de palavras certas fizeram o trabalho sujo.
e ela que já considerou-se forte, hoje se permite um mínimo do amargo que é o "gostar".
Ao que tudo indica, ela vai sorrir de novo, não é qualquer um que consegue pará-la no tempo do coração partido.
e a vida vai se encarregar de entregar aquilo que cada um merece, benefício ou prejuízo.
contudo, o que preocupa é esse sentimento que não sai do peito.
o contratempo não é se livrar disso, é saber esperar até que isso aconteça.
Se fosse tão fácil quando simplesmente acreditar no bom e velho "ele não te merece, é um tapado."
é mais complicado, sempre foi, e provavelmente sempre vai ser.
A verdade é uma só, isso vai passar, e ela vai ficar bem, independente do tempo que leve.
talvez isso ajude, eu não sei se ela sabe, mas...


...quando eu te vejo passar, algum jardim floresce num outono inteiro.

domingo, 11 de maio de 2014

Mia Culpa.



Manhã de dia das mães, ele levanta dolorido por ter trabalhado até algumas horas atrás, rasteja em direção à cozinha, e a mágica do preparo de café começa.O ritual do cigarro matinal se dá enquanto o vapor quente oriundo da bebida sombria e acolhedora sobe infinitamente, uma boa dosada na caneca temática de Star Wars enquanto procura o cinzeiro com os olhos, encontra-o e voltamos à sala.
Sim, ele dorme na sala e não, ele não é casado e nem mora em uma casa pequena.Escolheu a sala por todo um conjunto de praticidades e informalidades que a independência e o fator "estar solteiro" trazem.A televisão em um tom baixo, tocava uma música, "Rocket Man" do digníssimo Sir Elton Hercules John, e mesmo com todo o transtorno das últimas noites, e os problemas de aceitação no que diz respeito ao assunto amigos e distância, a música fazia sim uma porra de sentido abusivo.
Sim, ele se sentia um "Homem Foguete", indo em direção ao misto de cores e formas intermináveis, passando por tudo e por todos sem qualquer apego, apreço ou mesmo hesitação.Pensou no quão simples sua vida poderia ser com isso, e em seguida pensou no medo incisivo e letal que essa maneira de existir lhe proporcionava, com toda a carência afetiva da qual ele se servia no mundo, de maneira quase egoísta, fatalmente, viver assim iria tornar aquele pobre infeliz em uma bomba relógio à segundos de explodir.
No pequeno espaço entre as cortinas do "blackout" o pouco que se via da janela pra fora se fazia em chuva, alguns relâmpagos e neblina.Ele pensou nela enquanto tentava ligar para casa, e isso não tornou as coisas mais fáceis ou mesmo o dia mais curto.O sinal do celular era praticamente nulo, então ele deixou uma mensagem para a matriarca através da rede social mais popular no momento, não considerava isso uma atitude válida, mas era a única forma que tinha, e voltamos ao ócio.
Dali em diante, a sucessão de pensamentos que não teria uma conclusão.Coisas do tipo: "Que vida fodida, o que eu fiz, ou deixei de fazer para que chegasse nesse ponto?" ou mesmo "Merda de dia, merda de semana, merda de sensação de estar incomodando que me mantém afastado das pessoas." e assim por diante.Ele não sabia o porque de tanta complicação, na mente dele as coisas eram simples, com desenvolvimentos simples e conclusões simples, mas o resto da existência discordava, e muito.
Finalizando essa epopeia, cujos detalhes se limitam até os primeiros quarenta minutos pós almoço, ele se olhou no espelho, arrumou sem jeito o cabelo, pegou o casaco e partiu em direção aquele mundo bonito e singelo ao qual não pertencia, com um sorriso no rosto e rios de inutilidade para afogar os pensamentos tortuosos enquanto apenas existia.

domingo, 4 de maio de 2014

Paciência.



No ócio de domingo, fim de tarde, e eu procrastinando na frente do computador.
aquela vontade de chamá-la, e conversar, dizendo coisas que te prendam a atenção.
a janelinha fica aberta no canto da tela, me encarando: Anda! fala com ela logo!
não digito nem uma letra sequer, ela deve estar estudando, ou assistindo filme, qualquer coisa.
e também, não nos conhecemos bem, somos apenas dois estranhos que se esbarraram numa noite.
o quão longe uma conversa digital pode chegar? sem contar o fato de que eu não gosto de conversas digitais.
E ela em momento algum demonstrou qualquer interesse em ter um dialogo digitado comigo, o que não me frustra tanto, fico na esperança de que ela seja adepta da conversa à moda antiga.
por fim eu me canso de ser corroído pela vontade de falar e suas falhas sucessivas, pego minha bicicleta velha e vou rua afora, sem qualquer destino.
chegando ao centro da cidade, me deparo com uma das poucas lojas abertas, e só percebi que tinha parado,  descido da cherrie (sim, minha bicicleta tem nome) e ficado estático, olhando a vitrine, depois que a cinza do cigarro caiu no meu dedo.
Em um porta retrato, do outro lado da vitrine, um sorriso em moldura.
ela não parecia muito com você, exceto pelo sorriso, que por sua vez era você inteira.
aquele sorriso me prendeu por uns bons 30 minutos, e a chuva não me impediu nem mesmo de acender meus outros 3 cigarros.
Eu não entendi bem o que aconteceu ali, mas eu lembro de sorrir, sozinho, na chuva, e de alguma forma, aquilo me fez um bem danado.
decidi voltar pra casa, sem muita pressa, afinal, eu ainda tinha tempo pra o que quer que eu fosse fazer.
cheguei, te chamei, e falamos por algumas boas horas.

Tudo isso só pra te fazer sorrir, sem qualquer motivo, além dos meus dias de paz.