terça-feira, 28 de outubro de 2014

Entre falésias e o futuro forjado.


Eu estou de volta aquela estrada de neve.
uma outra vez, lembrando de você.
nova chance de cometer os mesmos erros.
ou ao menos de cumprir a promessa de te fazer sorrir.

Apenas mais um dia frio, aqui tão longe.
e entre pinheiros e algumas azaleias.
jurei ter visto tua silhueta no fim da estrada.
o mel dos teus olhos se afastando de mim.

Na memória, ainda falha, breves momentos.
as noites e jantares e passeios e cafés.
dentre outras tantas recordações que nunca houveram.
é só minha cabeça me ludibriando.

Indo contra a previsão do tempo, começa a nevar.
e eu alcanço a encosta no fim da floresta.
vejo o canto melodioso do oceano.
pergunto-me aonde você pode estar...


...e me lembro de te perder no abismo entre minha vontade e a verdade.

domingo, 26 de outubro de 2014

Realidade, Marca e Beijo.


É sobre o tempo em que estive em suas mãos.
e o sabor doce que sua voz tem.
sobre todos os raros momentos que dividimos.
também sobre como as palavras me fogem perto de ti.

Todas as vezes em que eu pensei que seria fácil.
esbarrar contigo por ai, e te ver como eu vejo o resto do mundo.
uma pessoa comum, simples e rotineira.
e todas as vezes em que essa esperança caiu por terra.

Também é sobre toda sua formosura.
e como você é envolta em mistérios sem fim pra mim.
memórias que te definem como é, e que eu nunca vou saber.
ter que aprender a viver assim, dia sim dia sempre.

E o quanto eu quis te abraçar e proteger dos precipícios da vida.
te dizer que vai ficar tudo bem, sabendo que posso cumprir essa promessa.
observar enquanto você vive, ama e parte em direção aos amanhãs.
e não me preocupar com sua ausência, pelo tempo que for...



...por saber que você vai sorrir, e isso vai me fazer viver mais um dia.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Conto.


Em meio ao caos dos últimos dias, ele decidiu partir.
fugiu para uma praia longínqua, nos confins de lugar algum.
se desfez de todos os grilhões do mundo materialista.
assim sendo, agora lhe bastava viver.

trançou um chapéu de palha, simples e alegre.
usou da bondosa natureza e fez uma vara de pesca.
gastou alguns dias observando o mar, adaptando-se a ele.
consumiu uma noite ou outra formulando técnicas e planos.

Eis que então decidiu ir pescar.
agora vamos pular parte da história, em algum tempo.
um outro belo dia, enquanto sentado na beira do mar.
ele consegue fisgar algo, algo mais forte que o esperado.

Era uma mulher, desnorteada e faminta.
em polvorosa por alguém encontrar.
a mulher se desembestou a falar.
implorando por comida.

Disse-lhe, humildemente, que não possuía comida.
não há peixes no meu mar.
pesco sonhos e boas lembranças.
é tudo que posso lhe dar.

A mulher aceitou viver por mais tempo.
consumindo-lhe três boas lembranças e um sonho.
o pescador sentiu o coração diminuir e apertar.
mas sorriu e até a saudou quando partiu.

Dessa vez um dia chuvoso.
mais uma estranheza, dessa vez bem atípica.
se ele não soubesse que não há peixes lá no mar.
diria se tratar de um rei dos mares.

Apenas um homem, estranhamente tristonho.
estático e confuso, por outra pessoa achar.
o homem deu algumas palavras.
encarecidamente pedindo por ajuda.

Explicou-se, calma e brevemente.
dizendo não entender  das coisas da mente.
não há sabedoria no meu mar, pesco esperança e alegria.
é tudo que posso ofertar.

O homem concordou em ver algumas luas a mais.
queimando-lhe metade da esperança e três quartos de alegria.
o coração do pescador chorou sangue e sua alma gritou.
mas ele nem ao menos titubeou ao ver o homem se cortar e padecer.

E a última ocorrência, no dia em que nevou.
nada mais lhe parecia fora do normal.
mais uma fisgada, outra mulher.
que mais lhe parecia uma sereia, ou uma deusa.

Uma beleza inenarrável, de ferir a vista.
sonolenta e perdida ela parecia.
queria apenas voltar para o mar, ao qual pertencia.
sem proferir uma palavra, deu as costas e caminhou.

Desesperado, ele suplicou.
engasgando com desculpas pra que ela ficasse.
tenho amor e sorrisos sinceros, tudo pescado desse mesmo mar.
é pouco, mas é seu, se ficar.

A mulher não pode aceitar tamanho sacrifício.
e partiu, levando consigo, sem saber, tudo que ele tinha.
o coração bateu forte por duas vezes, e parou.
enquanto ele a seguia em direção ao mar, se afogando em tristeza e mágoa...



...no fim das contas, eu percebi que não vivo em caos....eu faço parte dele.