quinta-feira, 27 de março de 2014

Caminhos.


A escuridão lhe causava um certo conforto que, apesar de estranho, era deveras agradável.
ele pode ver as profundezas do infinito em seus olhos, enquanto o inominável se afastava, lentamente.
a pele, pálida como jamais havia visto, provocava certa claridade na sala, enquanto eles se olhavam.
teve vontade de perguntar muitas coisas ao inominável, ele precisava de um sem número de respostas, tal qual sua vida de um destino.Ainda assim, manteve o silêncio, e se contentou em observar, somente.
O cansaço recaia sobre sua consciência, a vista pesava, batimentos reduziram e até mesmo pensar se tornou um desafio quase irritante naquele momento...é, parece que vai ser só isso.
Quando finalmente tomou coragem de dizer algo, um breve instante antes que o inominável se mesclasse a escuridão interminável das sombras, ele ousou com duas palavras: "E agora?"


"...Sonhe."


E foi o que fiz.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Rouquidão.


Para ele, agora, ela aparentava ser um sonho distante.
seus olhos ardiam, algo como uma mágoa refletida nos dela.
suas têmporas doíam, tinha a ver com a vaga ideia de perde-la.
ainda que não fosse um objeto a ser possuído, ou mesmo sua.
uma imensidão de nada, e uma infinidade de tudo.
essas conjecturas, decididamente, a definiam em plenitude.
tal a força da expressão apaziguante, suas pernas bambearam.
a mente vacilou, por fim, o coração titubeou em arritmia intensa.
tal era a graça das feições que somente ela possuía.
outrora, ele aceitaria, de todo coração, que não era mais que uma simples ilusão.
algo nascia em seu âmago desejoso...


....e morria em meu peito, amargurado.
sei que a vi desfalecer oceano abaixo, sei que vi.
estou certo de cada vez que morri, a cada metro mais que ela afundava.
fui perdendo do toque suas madeixas da cor do mundo distante.
foi me escapando da vista tua pele delicada como os lírios do jardim eterno.
e tua íris foi se aprofundando à tal ponto que findou por se unir ao mar.
meu viver partiu contigo aquele dia.
meu querer sofreu comigo, silenciosa agonia.
dai então, eu parei.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Dia Cinza.


Ele tem estado deprimido e nem sabe porquê.
caminha pela rua enquanto as nuvens parecem segui-lo.
seu tempo é gasto, e nem se dá conta, começa a crer na insanidade.
talvez se comprar um sorriso, ou belas cores, as coisas melhorem.
vamos deixar isso pra amanhã, amanhã sempre parece um dia mais apropriado.
amanhã talvez ele consiga chegar em casa.
amanhã ele pode chegar até você.


Eu tenho estado cabisbaixo, não deprimido, e creio saber bem o porquê.
ando pela rua enquanto as pessoas aparentam fugir de mim.
quem dera ter tempo pra gastar, ou mesmo perceber, sempre fui louco demais pra isso.
meu sorriso está a venda, é singelo, mas verdadeiro, e meus dias são sempre cinza.
não existem amanhãs pra mim, existe só um momento, só o agora.
o agora é meu lar.
meu lar é você...


...vamos?

segunda-feira, 3 de março de 2014

O escritor, o sonhador e o vivente.


Ele conseguia imaginar, os dois no apartamento escuro.
somente a noite turva e chuvosa iluminando o que dava.
aquele sorriso sem jeito e ao mesmo tempo totalmente desejoso que só ela tem.
e aquele amor compartilhado de uma forma que só eles dois sabiam fazer.
os corpos em uma sintonia que não pode ser descrita, então nomeada de "frenesi sutil".
e o rádio tocando as músicas menos propícias para o momento, e terrivelmente apropriadas para os dois.
o mel contido nos olhos dela esbarram na escuridão infindável dos dele, em um breve encontro.
em seus ouvidos, um sussurro da voz doce..."despertas".
ele acorda...


...Eu...acordo.
me restam algumas linhas invisíveis nessa folha, e palavras escapam a mente.
a fumaça do cigarro parece já conhecer o trajeto até a janela entreaberta, pouco me importa.
o copo de jack já quase no fim, e a luz artificial que adentra o quarto deveria me ferir os olhos.
ao que parece, eu realmente não ligo, já não sei se sonhei, se vivi ou mesmo me iludi.
não sei nem quanto tempo passou, se é que passou algum.
a única certeza que resta é do que deve ser escrito nas linhas invisíveis remanescentes.
mesmo assim, sei apenas o que eu desejo escrever, isso não significa que eu deva, ou vá te-lo feito.
e essa dúvida vai acabar comigo, letra perdida por letra perdida.
até que nada aconteça, até que nada me sobre...


....até que nada eu me torne.