quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A flor.


Em tempo já não lhe vejo passar sob minha janela.
e o frescor que traz consigo já não chega até mim.
busquei teu sorriso entre as filas da feira na praça.
o desalento foi tudo que encontrei.

A memória do mel no seu olhar me prende.
e qualquer vaga lembrança das madeixas tuas me ilude.
custo a crer que não vai mais voltar aqui.
vivo sentado nos degraus em que um dia subiste, delicada.

O inverno chegou, e com ele a guerra.
fiz o meu melhor para chegar até você.
em minha falha, tudo que me sobrou foi a farda.
e assim caminhei, para a mentira da luta pela pátria.

Pude sentir no ar, o cheiro do medo.
em cada gota de sangue, preenchendo as trincheiras.
poucos de nós, amigos ou não, tinham motivos para lutar.
todos tinham motivos para voltar para casa.

Eis que um clarão inunda o front.
seguido da surdez temporária que dura toda a vida.
acordo no hospital, já recuperado.
a guerra acabou.

Volto para casa, sem saber bem o que fazer.
ao chegar, me deparo com você, sentada nos degraus.
entre risos e lágrimas, me faz abrir os olhos.
entendi porque havia partido sem se despedir....



....e que eu tive que me perder para poder te reencontrar, e sorrir.