domingo, 11 de maio de 2014

Mia Culpa.



Manhã de dia das mães, ele levanta dolorido por ter trabalhado até algumas horas atrás, rasteja em direção à cozinha, e a mágica do preparo de café começa.O ritual do cigarro matinal se dá enquanto o vapor quente oriundo da bebida sombria e acolhedora sobe infinitamente, uma boa dosada na caneca temática de Star Wars enquanto procura o cinzeiro com os olhos, encontra-o e voltamos à sala.
Sim, ele dorme na sala e não, ele não é casado e nem mora em uma casa pequena.Escolheu a sala por todo um conjunto de praticidades e informalidades que a independência e o fator "estar solteiro" trazem.A televisão em um tom baixo, tocava uma música, "Rocket Man" do digníssimo Sir Elton Hercules John, e mesmo com todo o transtorno das últimas noites, e os problemas de aceitação no que diz respeito ao assunto amigos e distância, a música fazia sim uma porra de sentido abusivo.
Sim, ele se sentia um "Homem Foguete", indo em direção ao misto de cores e formas intermináveis, passando por tudo e por todos sem qualquer apego, apreço ou mesmo hesitação.Pensou no quão simples sua vida poderia ser com isso, e em seguida pensou no medo incisivo e letal que essa maneira de existir lhe proporcionava, com toda a carência afetiva da qual ele se servia no mundo, de maneira quase egoísta, fatalmente, viver assim iria tornar aquele pobre infeliz em uma bomba relógio à segundos de explodir.
No pequeno espaço entre as cortinas do "blackout" o pouco que se via da janela pra fora se fazia em chuva, alguns relâmpagos e neblina.Ele pensou nela enquanto tentava ligar para casa, e isso não tornou as coisas mais fáceis ou mesmo o dia mais curto.O sinal do celular era praticamente nulo, então ele deixou uma mensagem para a matriarca através da rede social mais popular no momento, não considerava isso uma atitude válida, mas era a única forma que tinha, e voltamos ao ócio.
Dali em diante, a sucessão de pensamentos que não teria uma conclusão.Coisas do tipo: "Que vida fodida, o que eu fiz, ou deixei de fazer para que chegasse nesse ponto?" ou mesmo "Merda de dia, merda de semana, merda de sensação de estar incomodando que me mantém afastado das pessoas." e assim por diante.Ele não sabia o porque de tanta complicação, na mente dele as coisas eram simples, com desenvolvimentos simples e conclusões simples, mas o resto da existência discordava, e muito.
Finalizando essa epopeia, cujos detalhes se limitam até os primeiros quarenta minutos pós almoço, ele se olhou no espelho, arrumou sem jeito o cabelo, pegou o casaco e partiu em direção aquele mundo bonito e singelo ao qual não pertencia, com um sorriso no rosto e rios de inutilidade para afogar os pensamentos tortuosos enquanto apenas existia.

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